O silêncio de nós
Viver os dias que virão me fará calar o silêncio, por hoje,
me calei, e por muitas vezes irei me calar, pois a fala não descreve mais os
significados de cada uma das palavras sonoras, que ouviria se eu tivesse
declamado.
Ouça - Nando Reis - Sem Arrefecer
Se as palavras foram faladas, as mesmas, estão jogadas ao
vento, elas irão viajar pelo tempo até chegar ao seu ouvido e dizer todas as frases
que ditei no meu silêncio, irá falar a cada dia no calar da madrugada, o frio,
irá bater na porta do guarda roupa a procura do cobertor que se guardou para
não mais cobrir e nem mais aquecer ninguém.
Os dias irão passar, como relógio não irá parar, como eu,
não deixarei a rosa rosadeira, rosar, o sol, não soltará o solado do sapato do
soldador. Juntar, emendar os pedaços que vão se quebrando eu irei, montarei os
cacos estilhaçados que brilham no olhar de cada um de nós e assim eu navego no
apego dos pingos que sobraram na gota de cada orvalho.
O alho que estava ao lado do pilão não expressou, não amassou,
não deixou que acabasse o sabor e o paladar de viver. Pela casa, as pegadas que
foram deixadas e o cheiro do silêncio irá aromatizar o perfume e a fragrância do
odor do calor, irá suar e escorrer pelo chão.
Sem olhar irei enxergar todas as pinturas, toda a arte que o
amor possa expressar e, todo o silêncio que o artista possa interpretar para
criar mais uma obra.
A tinta está fresca para pintar...eu pintarei.
Ouça - Nando Reis - Sem Arrefecer
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